OS JOVENS NA 25ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO
Era um domingo frio e bastante nublado na cidade de São Paulo, você sabe, como qualquer típico dia de inverno. Eu sei que você deve estar pensando que esse seria um ótimo dia para ficar em casa fazendo uma super maratona de série, mas milhares de famílias, grandes grupos de amigos e pessoas do setor educacional, se deslocaram para conferir mais uma edição do maior evento literário da América Latina, a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Por volta das dez horas da manhã e aos gritos de “abre, abre, abre”, o público formava longas filas em direção às catracas de entrada do evento, no Pavilhão do Anhembi, localizado na zona norte da cidade. Desde esse momento em que cheguei, já deu para perceber como essa galera desejava que o acesso fosse logo liberado para que pudessem explorar os 75 mil metros quadrados e para conferir o que os 197 expositores tinham para apresentar de livros e atividades nesta edição.
O tema foi “Venha fazer esse download de conhecimento” e a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo aconteceu entre os dias 3 a 12 de agosto de 2018. A ideia dos organizadores foi de destacar o protagonismo do livro em si, isto é, o livro como a principal fonte de se adquirir conhecimento. Esse tema também foi pensado para dar ênfase para a importância do diálogo e da abertura de perspectivas.
No total, foram dez dias de diversas atividades para todos os tipos de públicos e para pessoas das mais variadas idades, sendo 1.500 horas de muita programação. Quem fez o planejamento da programação cultural foi a Editora Sesc, já que a editora é o parceiro cultural da Bienal há cinco incríveis edições. Tal colaboração trouxe o resultado de uma curadoria parcial da programação do Salão de Ideias.
Os espaços culturais estabelecidos foram separados de acordo com os assuntos e convidados que receberiam, como o Salão de Ideias, que recebeu uma galera de peso da literatura com a ideia de debaterem assuntos relacionados com temas muito atuais das mais variadas áreas, mas sempre com foco na relação com o mundo dos livros.
Diferentes temas e discussões foram abordadas através dos convidados de cada mesa, como poesia nas redes sociais (você já deve ter visto por aí!), a literatura brasileira contemporânea, a questão das fake news (#polêmica), a relação do jornalismo e da política, os videogames, a questão relacionada à diferença entre o masculino e o feminino, entre outros.
A Arena Cultural BIC foi o espaço mais procurado por gente como você: os jovens. Lá era onde aconteceram os painéis com autores nacionais e internacionais, como Laura Conrado, Babi Dewet, Thalita Rebouças, Pam Gonçalves, Beth Reekles, Victoria Aveyard e David Levithan, além de várias outras pessoas que são exemplos para toda uma geração.
Para manter o evento organizado, esta edição da Bienal do Livro contou com um processo de retiradas de senhas (pelo site oficial) para que os fãs garantissem os seus autógrafos junto com os autores participantes dos painéis.
Outro espaço que teve uma grande presença na programação cultural foi o Cozinhando com Palavras, local que estava lá para receber grandes personalidades da gastronomia nacional, sendo entre eles nomes como Luiz Américo, Arnaldo Lorençato, Janaina Rueda, Thiago Castanho e Helena Rizzo. Reconhecendo o aumento da popularidade e comercialização de livros escritos por importantes personalidades da gastronomia, o espaço contou com uma programação intensa de participação de chefs e de professores de culinária, os quais fez com que todo mundo amasse as suas aparições.
Já a Bibliosesc Praça de Histórias e a Bibliosesc Praça da Palavra, o Espaço Cordel e Repente e o Espaço Infantil Correios – tenda das mil fábulas, foram locais com foco na programação para aqueles mais novos, as crianças, por apresentar para o público infantil momentos de narrações de histórias, intervenções literárias, recitais de poesias e saraus, bate-papos e mediações de mesas redondas. Viu só? Todas as idades foram lembradas com muito carinho!
Uma maneira inusitada de carregar os livros
Caminhando pelos espaçosos corredores da Bienal do Livro, não tinha como não perceber algumas pessoas circulando pelo evento com malas de rodinhas. Confesso que achei bem estranho e em um primeiro momento, acreditei se tratarem de pessoas de fora da cidade de São Paulo e que estavam a caminho de voltar para sua cidade de origem. Afinal, quem andaria com malas tão grandes por aí, não é?
Mas, ao começar a ver com mais atenção, consegui ter a certeza do que se tratava e achei a ideia genial: os frequentadores do evento tinham encontrado uma maneira bem interessante para facilitar o carregamento de suas compras – os livros – ao utilizarem as malas de viagens. Era possível encontrar malas de tamanhos médios e algumas incrivelmente maiores, além de, é claro, carrinhos de feira.
Foi o caso de Giovana Pesolto, 22, e Giulia Pesolto, 20, que estavam há pouco tempo em seu primeiro – e único, pois decidiram ir apenas uma vez – dia na Bienal e já haviam adquirido mais de dezoito livros. Dá para acreditar? Confesso que fiquei com uma leve inveja por não ter comprados todos esses livros! #chateada
Giovana e Giulia estavam com uma mala de viagem de tamanho médio para facilitar o transporte de suas aquisições e a movimentação pelos corredores do evento. Quando eu as encontrei, elas estavam sentadas perto do estande da Editora Intrínseca organizando os livros na mala. “Já guardamos outros livros no armário, porque não estava mais cabendo na mala”, contou Giovana, enquanto me mostrava a lista de livros que desejava comprar, separados por editoras, e os que já tinham sido riscados.
A participação dos jovens no maior evento literário da América Latina
É possível dizer que a Bienal do Livro é um evento que já faz parte da agenda de muitos jovens, como para Giovana e Giulia que frequentam o maior evento literário da América Latina todos os anos há mais de uma década. “Ler é uma grande coisa na minha família. Minha mãe lia Harry Potter quando a gente era criança. E por isso ela apoia essa loucura de comprar muitos livros”, comenta Giulia.
Estandes como os das grandes editoras Intrínseca, Planeta, Sextante/Grupo Autêntica, Companhia das Letras e o espaço da varejista Submarino eram os locais em que deu para encontrar filas com grupos de amigos nesse domingo. Afinal, são as editoras queridinhas de muita gente! Você se identificou?
Cenários relacionados a filmes e a séries, estruturados pelas próprias editoras, também contavam com muitos e muitos grupos de pessoas esperando para tirar fotos, como no caso do trono gigante de Game of Thrones, na mala de Newt Scamander, de Animais Fantásticos e Onde Habitam, e na famosa toca do Hobbit. Com tudo isso, com certeza podemos falar que não faltou diversão para os jovens em geral!
Para o coordenador editorial da Editora Sesc, Francis Manzoni, 39, foi possível perceber, já no primeiro final de semana do evento, que diversos grupos de jovens estiveram presentes na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. “Tenho a impressão de que tem mais público”, diz Francis, “no primeiro final de semana já vi uma movimentação muito grande de jovens, que geralmente eles vêm nos agendamentos das escolas, mas eles já estão aqui por conta própria”, completa.
Essa edição apresentou algumas importantes mudanças também em relação aos gêneros de livros mais procurados. Segundo a vendedora da Editora Planeta Pâmela, 34, os livros escritos por youtubers diminuíram, enquanto que outros gêneros estiveram em mais evidência para os jovens. “Eu acho que esse ano os youtubers ainda estão dominando um pouco, mas a ficção fantasiosa está vindo com bastante força”, comenta.
O resultado da 25ª edição e a perspectiva das editoras
Com um investimento estimado em R$ 32 milhões, a 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo atraiu aproximadamente 663 mil pessoas durante todos os dias em que o evento aconteceu no Pavilhão do Anhembi. Segundo a Câmara Brasileira do Livro, por volta de 15 mil escolas agendaram visitas e mais de 100 mil alunos estiveram presentes.
Apesar de um número considerável de pessoas que participaram desta edição da Bienal do Livro, a organização tinha como expectativa receber 700 mil pessoas, já que na edição de 2016 foram por volta de 684 mil. Porém, de acordo com uma pesquisa de satisfação realizada durante o evento, 97% dos visitantes afirmaram estar satisfeitos com o evento e 98% tendem a retornar na próxima edição.
O que mais surpreendeu as editoras e a organização foi o valor que cada visitante gastou em média, isto é, o ticket médio. Vivendo tempos de crise no mercado editorial, o ticket médio no valor de R$ 161,57 apresentou um aumento de 33% em relação às vendas do ano de 2016.
Para a editora LeYa, essa última edição da Bienal do Livro de São Paulo foi um sucesso. “Em números absolutos e em resultado de faturamento, foi a melhor Bienal da editora em São Paulo. Ficamos 20% acima da edição anterior”, informaram em resposta por e-mail. O resultado foi igualmente positivo para a Sextante, editora a qual “teve um crescimento de 50% nas vendas da Bienal em relação a 2016”, segundo informou sua assessoria de imprensa. Assim, mesmo em meio à uma forte crise comercial presente desde 2016, a Bienal foi capaz de trazer bons resultados para as editoras.
![]() DSC00190 |
---|
![]() DSC00189 |
![]() DSC00187 |
![]() DSC00181 |
![]() DSC00184 |
![]() DSC00185 |
![]() DSC00182 |
![]() DSC00186 |

Clique em alguma das figuras para ver as fotos do evento
Quer conferir como foi o último dia da Bienal? Confira o vídeo abaixo!
Espero que em 2020, quando tiver mais uma Bienal do Livro aqui em São Paulo, as coisas estejam melhores e que ainda mais jovens se interessem pela leitura!
Roteiro, gravação, edição: Luiza Marques