DESVENDANDO O MERCADO EDITORIAL E A LITERATURA JUVENIL
Você sabe o que o mercado editorial – ou mercado literário – representa? Não?! Então vou explicar! Fique confortável e acompanhe a leitura. Vamos nessa!
O mercado editorial representa todas as áreas envolvidas por fazer com que os livros cheguem até você, o jovem leitor. Ou seja, são os autores do mais diversos segmentos, os responsáveis pelo fator comercial do livro (estou falando das vendas, do faturamento, do valor médio de uma determinada obra e muito mais), os editores e os publishers, os revisores e tradutores, os assessores, os profissionais da parte de design e de impressão, os vendedores e ainda toda uma galera que compõem esse complexo mercado.
São eles que fazem com que aquilo que inúmeros escritores das mais variadas partes do mundo escrevem se espalhem por aí e que possam ser lidos e compreendidos por diferentes públicos de diferentes lugares. Como você e alguém que está do outro lado do planeta! E também que o livro, um objeto de alto valor intelectual e responsável por agregar conhecimento, seja comercializado e tenha um valor financeiro.
E dentro desse extenso mercado editorial e da literatura em si existe uma parte específica voltada para os jovens: é a literatura juvenil. Essa categoria surgiu recentemente e tem atraído diversas pessoas que buscam histórias com as quais se identifiquem. Sabe aquelas narrativas que falam de primeiros amores e primeiras vezes, inseguranças, passeios com os amigos, descobertas de mundo e outras coisas que passamos quando estamos em nossa juventude? São histórias desse tipo que entram nessa categoria.
Quando somos jovens e estamos nos desenvolvendo, parece que tudo é um grande problema e que nunca sairemos dessa fase – eu sei, eu sei, é difícil. Assim, não é nada mais justo do que ter como procurar referências que se pareçam com o que estamos sentindo e que nos ajudem a lidar com essa mistura enorme de emoções, medos e dúvidas. Queremos encontrar amigos nos livros que lemos e que levaremos pelo restante da vida como uma gostosa e aconchegante lembrança. Você já passou por isso?
Os livros voltados ao público juvenil estão com cada vez mais força nas livrarias. Se reparamos com mais atenção naquilo que está sendo exposto nas prateleiras e espaços das livrarias vamos ver livros de youtubers e de uma galera que está aparecendo na televisão, novas e especiais edições de Harry Potter, títulos que ganharam suas próprias adaptações para seriados, livros de John Green, de George R. R. Martin e Jojo Moyes, e mais!
Não faltam opções para quem está procurando uma nova aventura para viver por meio das páginas escritas por alguém que quer pegar na sua mão e te levar para explorar um mundo com bruxos e muita magia, universos que tenham garotas apaixonadas ou ainda te levar por terras com dragões, castelos, reis e rainhas. Ah, e que tudo isso seja bastante compartilhado na internet afora!
Estaria o mercado editorial mais próximo dos jovens?
Dá perceber que o mercado editorial está se abrindo para os livros que foram escritos por jovens ou por adultos, autores os quais desejam conversar diretamente com o público juvenil. Esse público está por aí, aparecendo em eventos literários, como a Bienal Internacional do Livro e a FLIPOP, e está cada vez mais próximo de seus ídolos e de seus escritores favoritos graças às redes sociais.
Segundo a professora e autora finalista do Prêmio Jabuti de 2017 Marilia Lovatel, se o jovem tem interesse por aquilo que ele lê, ele vai atrás de mais informações sobre a história e sobre o próprio autor. “A internet é uma ferramenta que pode ser muitíssimo interessante e que o uso é espontâneo. A curiosidade vem e eles [os jovens] não esperam, né, vão direto buscar mais informações. Isso dá um protagonismo e uma possibilidade de autonomia muito boa, muito interessante”, afirma a autora de mais de 10 livros voltados às crianças e aos adolescentes.
Considerada como uma referência para a educação do Nordeste, Lovatel conta que participa de diversas visitas e leituras em escolas de diferentes regiões e que, logo em seguida, os jovens que se identificaram com sua escrita a procuram. Ela considerada como “uma oportunidade gratificante de estar mais próxima desse público”. Através dos autores que participam de painéis e debates diretamente com os adolescentes, o mercado editorial está, de certa forma, se aproximando do público para o qual eles publicam seus livros.
No entanto, para Marília, tudo aquilo que envolve o mercado editorial brasileiro é algo complicado, se encontrando em uma situação inquietante e que pede a sua, a minha e a atenção de todos nós: “eu tenho acompanhado com preocupação o cenário atual em que a gente percebe grandes livrarias com dificuldades ou até fechando as portas.
Vejo as editoras lutando para lançar novos títulos e alcançar um público leitor mais amplo através de lançamento que caiam mais no gosto deles e para se sustentar como negócio, e isso me preocupa porque tem muita gente boa, sabe, produzindo”, comenta.
Precisamos observar como é a estrutura do mercado e das editoras em relação ao modo de distribuição desses livros influência na formação de nossos leitores. “Eu sei que se a gente olhar pra trás é fácil visualizar que o espaço foi ampliado. Mas eu acho que ainda falta muito, sabe, pra que a gente possa olhar para o nosso país e enxergar o Brasil como um país de leitores. E claro que a distribuição desses livros que passa aí pelas capilaridades das editoras também é um fator decisivo e um trabalho muito polarizado e muito concentrado nas grandes capitais. Precisa ainda ganhar esse país interior afora com os projetos e com tanta coisa boa que tem acontecido por aí e que ficam em cenários muito restritos”, continua a autora.
E o que diz uma autora sobre a formação do jovem leitor?
Ao realizar a entrevista por telefone – por conta da grande distância entre São Paulo e Fortaleza –, eu quis saber mais qual é a opinião de Marilia, tanto como autora quanto como professora de mais de 20 anos de carreira, sobre a formação do jovem leitor e sobre como ela enxerga o jovem leitor brasileiro.
Ela me disse que, em sua opinião, a escola tem o papel fundamental de acrescentar a leitura e os clássicos em sala de aula, mas sem esquecer que é preciso auxiliar o jovem a praticar o exercício de ele mesmo escolher o que deseja ler. “Eu acho que a escola cumpre um papel ao indicar ou sugerir e abrir espaço para essa leitura em sala de aula. O único cuidado que precisa haver é entrar em um meio termo entre trabalhar aquilo que é uma bagagem cultural e que aqueles alunos terminem a escola tendo lido alguns clássicos e que eles precisam conhecer ao longo da formação”, comenta Marilia.
E complementa: “É complicado você imaginar que um aluno termine sua formação sem ter lido Machado de Assis e alguma obra da Ligia [Fagundes Telles], Rachel [de Queiroz], enfim, tantos nomes maravilhosos que temos. Isso precisa ser muito bem dosado, porque também precisa ter uma leitura por prazer e o exercício da escolha dessa leitura, aquele texto que eles buscam espontaneamente nas livrarias”.
Você aí do outro lado da tela: como você enxerga o jovem leitor do nosso país? É uma pessoa próxima dos livros ou só lê de vez em quando? Para você, eles frequentam as livrarias e exploram suas inúmeras prateleiras? Eles são maioria ou minoria em relação ao restante dos jovens?
Uma editora que traz lembrança afetiva para o público
A 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo trouxe para o público a primeira participação de uma editora que tem um gostinho de infância para muita gente. É a Estrela Cultural, selo de livros da famosa marca de brinquedos que fez parte dos primeiros anos de vida de quem hoje já não é mais criança. Conversei com Beto Junqueyra, o publisher da editora, e falamos sobre como foi para os profissionais da empresa participarem do maior evento literário da América Latina. “Foi muito bom poder estar na Bienal. Deu para perceber que a Estrela traz uma memória afetiva no público por conta dos brinquedos”, conta.
Beto conta que sempre tentou fazer algo do tipo com a marca Estrela e que, no final do ano passado, essa parceria finalmente deu certo, levando mais de 12 títulos para a Bienal e, em sua maioria, que apresentam histórias sobre as culturas brasileiras, como os povos indígenas e africanos e suas particularidades tão presentes em nossa cultura.
Segundo Junqueyra, a Estrela Cultural tem como objetivo trazer uma experiência além da leitura para, principalmente, as crianças. Os livros contam com uma característica mais interativa e com brincadeiras lúdicas, diferente do que vemos por aí na literatura. Para ele, sempre foi um grande desejo um dia poder trabalhar com obras que o público também pudesse brincar e interagir: “Por exemplo, em ‘Os Natos – Volta ao Mundo Falando Português’, livro que publiquei pela [editora] Planeta em 2003, o leitor teria que usar um decodificador para interpretar as pistas e descobrir o mistério da história”.
Para descrever o que é literatura, o publisher a comparou com um céu estrelado, veja só. “Acredito que a literatura seja como um céu estrelado, sabe, que faz a imaginação trabalhar. Você pode interpretar as histórias de diferentes formas”, comenta Beto.
Não podemos pensar que a literatura não deve ser algo acessível e popular se queremos construir um país de leitores. O que é literatura para você?
Ouça um trecho da entrevista com a autora
“Hoje eu vejo os jovens indo às livrarias e sentados no chão ou em mesas de leituras, né, e lendo com prazer. Isso é um alento pra gente, mas ainda é a minoria. Eu acho que o jovem brasileiro é muito curioso, tem uma sede de interação com o texto, se ele tem interesse pelo texto, ele vai atrás do autor, ele quer buscar mais informações, ele vai pra internet ampliar aquele conhecimento. Então eu acho tudo isso muito positivo. Me preocupa um pouco que eles façam uma leitura de que tudo que se lança em forma de livro é literatura. Eu acho que tem que haver esse leque aberto pra todas as possibilidades e nisso o papel da escola é fundamental”, afirma a autora.
Ouça um trecho da entrevista com a autora
Escute o podcast da Casa do Jovem Leitor e fique por dentro das principais notícias do mercado editorial e da literatura juvenil dos últimos meses!
Roteiro, gravação e edição: Luiza Marques